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Fica 2024 aborda mudanças climáticas e inova com Mostra de Cinema Indígena e de Povos Tradicionais

Além das mostras competitivas, debates com nomes consolidados no cinema nacional e internacional, e atividades de formação, o Festival contará, neste ano, com 30 atrações musicais entre os dias 11 e 16 de junho

TATIANA GONÇALVES

Mais de mil filmes inscritos para as mostras competitivas, uma sessão inédita para valorizar a produção audiovisual indígena e de povos tradicionais, 30 apresentações musicais, debates e ações de formação em uma programação cujo foco temático é ‘Tecnologia, Inovação e Mudanças Climáticas’. Toda essa mistura multicultural vai ecoar pelas ruas da velha, mas sempre vibrante Cidade de Goiás, de 11 a 16 de junho, período em que um festival iniciado há mais de duas décadas celebra a união entre cinema e meio ambiente. “Sendo o Fica um evento ambiental, não poderíamos ficar sem abordar a crise atual em torno das mudanças climáticas. Sobretudo, pensando na COP30 que será no Brasil, no ano que vem”, destaca a secretária de Estado da Cultura, Yara Nunes.

Na perspectiva da relevância alcançada pelo Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) ao longo dos anos, tanto no Brasil quanto fora do país, em relação à temática ambiental, é dever inserir-se na discussão dos principais problemas que afetam o planeta. Segundo a secretária, o objetivo é fortalecer e consolidar esse papel. “Queremos que o festival seja não apenas um espaço de discussão cinematográfica no Brasil, mas também um ponto central para discussões sobre meio ambiente. Um lugar onde as pessoas reconheçam e digam: Ali acontecem discussões sérias e eficazes sobre meio ambiente”, afirma Yara Nunes.

E o número recorde de inscrições em relação às últimas edições, totalizando 1.019 filmes de 77 países, é um indicativo de que o Fica está retomando esse papel. No total, foram 1.019 inscritos de 77 países interessados em participar das quatro mostras competitivas: Mostra Washington Novaes, Mostra de Cinema Indígena e Povos Tradicionais, Mostra do Cinema Goiano e Mostra Becos da Minha Terra, específica para produtores audiovisuais da cidade de Goiás. O número representa praticamente o dobro de inscrições da edição anterior. O festival vai destinar premiações que variam de R$ 5 mil a R$ 35 mil, além de troféus e menções honrosas.

Foram 14 filmes selecionados para a Mostra Washington Novaes, 9 para a do Cinema Goiano, 10 produções ficaram com a Becos da Minha Terra e 9 filmes foram escolhidos para compor a Mostra de Cinema Indígena e Povos Tradicionais. No total, foram 12 longas-metragens e 31 curtas ou médias metragens. A lista com todos os 42 filmes selecionados está disponível no site oficial (https://fica.go.gov.br/).

Dos 1.019 filmes inscritos, 459 são brasileiros, 560 estrangeiros e 121 goianos. Depois do Brasil, os países com maior representação foram Irã, Índia e Estados Unidos. Já os estados de São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais formam o ranking brasileiro.

As comissões responsáveis pela avaliação das obras audiovisuais são compostas por profissionais com ampla experiência na área, muitos dos quais foram selecionados por meio de chamadas públicas, com contribuições da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.

Novidade

A estreia da Mostra de Cinema Indígena e de Povos Tradicionais é um marco na história do Fica, e reflete o crescimento e reconhecimento da produção audiovisual dessas comunidades.

A iniciativa busca impulsionar ainda mais essa produção, oferecendo um espaço dedicado, sem excluir a possibilidade de esses realizadores inscreverem seus trabalhos em outras mostras do festival.

“Esta mostra é uma forma de incentivar ainda mais a produção audiovisual indígena e dos povos tradicionais. Nosso festival tem sido pioneiro ao dar espaço e prêmios a esses trabalhos em várias categorias e edições anteriores”, explica Yara Nunes.

Música no Fica

A programação musical do Fica está recheada de atrações e tem potencial para agradar a um público eclético. São 30 apresentações, das quais 16 locais e 11 regionais, com cachês variando de R$ 2 mil a R$ 10 mil. Como sempre acontece, não faltam os shows de artistas de renome nacional. Para esta edição já estão confirmados a cantora Sandra de Sá, o multiinstrumentista Silva e a banda IRA!

Com sua voz potente e sua versatilidade, que transita entre diversos estilos musicais, como o samba, o funk, o soul e o pop, Sandra de Sá se apresenta no dia 14, uma sexta-feira. No sábado, 15, a banda IRA! sobe ao palco, levando aos fãs seus hits engajados e poéticos.  A atração do último dia do Fica ainda não foi anunciada, mas os organizadores garantem que será uma boa surpresa. Expectativa!

Os artistas da terra interessados em se apresentar no Festival tiveram até o 30 de abril para se inscrever. Agora, é só aguardar o resultado da seleção.

Realização

Esta edição, a 25ª, é uma realização do Governo de Goiás, com a correalização da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio da Fundação Rádio e Televisão Educativa (RTVE).

O apoio de diversas entidades, como o programa Goiás Social, as secretarias de Estado da Retomada, de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Saneago, Universidade Estadual de Goiás (UEG), Instituto Federal de Goiás (IFG), Serviço Social do Comércio (Sesc) e Prefeitura da cidade de Goiás, é fundamental para o sucesso do evento.

Além disso, nesta edição, o Fica conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Entrevista
YARA NUNES – SECRETÁRIA DE ESTADO DA CULTURA

“Para o 25º Fica, nós buscamos justamente ainda mais a internacionalização do festival, pela relevância dele dentro das pautas urgentes para a humanidade”, afirma Yara Nunes

Tecnologia, Inovação e Mudanças Climáticas. Qual o motivo da escolha desse tema para esta edição?

A escolha desse tema se deve à urgência da pauta, em âmbito mundial. Sendo o Fica um festival ambiental, não poderia ficar sem abordar a crise atual em torno das mudanças climáticas. Sobretudo, pensando na COP30, que será no Brasil no ano que vem. Então, consideramos que o Fica também é um caminho para chamar atenção a esta discussão aqui no Bioma do Cerrado, para abrirmos mais um canal para o Estado de Goiás e o Cerrado se engajarem para a COP30. Neste sentido, chegou-se ao recorte da tecnologia e da inovação, porque são as questões mais relevantes quando se fala sobre mudança climática. A tecnologia, de um lado, é aquilo que está entre as causas dos problemas climáticos, mas também é parte da solução. Como sociedade, estamos em busca de novas tecnologias que ajudem a gente a mudar as maneiras de produzir energia, para aplicarmos formas mais limpas na produção de energia e de alimentos, por exemplo. Então, essa discussão é fundamental e a equipe técnica do Fica considerou relevante fazer essa junção para o tema da 25ª edição do Fica.

Qual a expectativa em relação a esta edição do Fica?

Para o 25º Fica, nós buscamos justamente ainda mais a internacionalização do festival, pela relevância dele dentro das pautas urgentes para a humanidade. Acredito que já conseguimos fazer isso em parte! O número expressivo de inscrições, 1.019 filmes, dos quais 560 estrangeiros, de 77 países, comprovam isto.  E claro, na visibilidade do Fica também para fora do Estado de Goiás. O Fica já é um dos festivais de cinema mais relevantes do Brasil, e é o mais relevante do ponto de vista da temática ambiental. Queremos fortalecer sempre mais este aspecto. Nosso desejo é que o festival possa ser tanto um dos lugares de discussão do Cinema no Brasil, como também, da questão ambiental. Um lugar para onde as pessoas olhem realmente como: “ali acontecem as discussões relevantes sobre Meio Ambiente”.

Essa edição apresenta alguma novidade em relação às anteriores?

A Mostra de Cinema Indígena e de Povos Tradicionais é inédita no histórico do Fica. Nossas equipes consideraram o fato de a produção audiovisual indígena e dos povos originários estar crescendo muito, já há alguns anos, cerca de uma década para cá. Têm surgido muitas iniciativas de capacitação e de apoio nesse sentido, pela própria luta desses povos por direitos e acesso aos territórios. Então, essa é uma produção atualmente muito relevante, que ganhou o mundo, com ampla circulação em festivais, recebendo premiações diversas.

No próprio Fica, este tem sido um processo que vem sendo acompanhado de perto, pois muito dessa produção indígena brasileira traz a temática ambiental, o que faz do festival um dos primeiros a ter dado espaço e premiações a estes trabalhos, em diversas categorias e em várias edições anteriores. Então, ter uma mostra competitiva específica é uma forma que a equipe encontrou de incentivar ainda mais a produção audiovisual indígena e dos povos tradicionais, sem que haja nenhum impedimento de esses realizadores inscreverem seus trabalhos noutras mostras do festival, como a Washington Novaes, que é a principal, por exemplo.

Neste caso, as duas possibilidades de inscrição se complementam. E essa relevância da produção, sobretudo indígena, não é apenas em número, é também porque os realizadores indígenas têm sido os principais a trazerem para o cinema brasileiro inovações criativas, de linguagem, de novos olhares para as histórias. E por fim, essa pauta dos indígenas se une e dá espaço para as causas também dos povos tradicionais como um todo, porque a associação delas com as questões ambientais é muito grande.

Neste ano foi registrado o dobro de filmes inscritos em relação ao ano passado. A que se deve, na sua opinião, essa grande procura pelas mostras competitivas do Festival?

Percebo três causas. A primeira, tem a ver com a recuperação que a gente tem conseguido fazer, da imagem do Fica, da importância dele, no sentido de reposicionar o festival. Porque quando o Fica surgiu, há 25 anos, existiam poucos festivais de cinema no Brasil, e nenhum de cinema ambiental. Hoje, são centenas de festivais acontecendo ao mesmo tempo, e muitos ambientais, e isso, nos últimos anos, levou as equipes técnicas a repensarem alguns aspectos para que o Fica continuasse a ter relevância. E eu acredito que temos tido sucesso nisso.

A segunda, é o próprio fato da questão ambiental estar no centro da pauta dos debates da sociedade e dos debates políticos, o que tem trazido atenção dos realizadores e, consequentemente, mais filmes ambientais vêm sendo produzidos também, o que leva a ter mais procura por festivais ambientais.

Por fim, foi um acerto grande também a escolha da equipe usar uma plataforma compartilhada para fazer as inscrições dos filmes, que é maneira como a maioria dos festivais também usa, no lugar de criar sites próprios. Nessas plataformas compartilhadas, já estão cadastrados todos os festivais, todos os realizadores; é ali que esses realizadores buscam por novos festivais para inscreverem seus filmes. Com certeza isso nos ajudou a termos esse resultado tão positivo no número de inscrições, sobretudo internacionais.

foto: divulgação

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