Um dos patrimônios mais antigos e simbólicos da cidade de Goiás, fundado em 1825, o hospital é um marco na história da saúde pública brasileira e testemunha da evolução da medicina no país, mantendo-se ativo e relevante ao longo de gerações
RARIANA PINHEIRO
Fundado em 1825, sob a proteção de Dom Pedro I, pela Carta Imperial de 25 de janeiro de 1825, o Hospital São Pedro de Alcântara teve como missão inicial servir de abrigo aos enfermos pobres e indigentes. Vinculava-se às preocupações da Câmara de Vereadores e do governo da província em torno da função de curar por caridade os enfermos pobres. Acolhia, desse modo, dementes, doentes e necessitados, fossem eles homens livres ou escravos. Funcionava com um regulamento que, ao longo dos anos, passou por mudanças em decorrência das suas necessidades e das peculiaridades locais, como aquelas de caráter sanitário e higiênico presentes no novo estatuto de 1835.
O hospital recebia os desamparados mediante apresentação de um atestado de pobreza emitido pelo pároco ou pelo governo provincial. Permitia-se também o tratamento de escravos, desde que o senhor custeasse sua sustentação e a ação terapêutica. Atendia, a preços módicos, os soldados do exército sediados na província e igualmente os presos da cadeia pública.
O dispensário era ‘socorrido’ por um médico, um cirurgião e dois enfermeiros, um para a enfermaria masculina e outro para a feminina. Antigos pacientes que permaneciam no hospital compunham, na maioria das vezes, a equipe de enfermeiros que, além de alguma prática na área, deveria ter uma conduta bastante regular, saber ler, escrever e contar (AHEG, caixa 401).
Ao internar-se, o paciente deixava tudo o que possuía na entrada, recebia três camisas, três calças, dois pratos, uma tigela, uma moringa e dois copos, um para água e outro, menor, para os remédios. O médico prestava atendimento aos pacientes algumas vezes por semana, ocasiões em que prescrevia a terapêutica, da qual se incumbiam os enfermeiros.
Os raros estudos que tratam do Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara mostram-no como espaço privilegiado para o desenvolvimento das estratégias sanitárias e como estas interferiram em todo o espaço urbano da cidade de Goiás no século XIX. O hospital era o eixo central no que se refere à assistência social, abarcando funções e princípios caritativos cristãos, recolhendo alienados, menores abandonados, assistindo aos encarcerados, doentes e necessitados e, posteriormente, enterrando gratuitamente os indigentes. Prestava amparo material e espiritual à comunidade na vida e na morte.
Ao longo de sua trajetória, o hospital desempenhou um papel crucial no enfrentamento de epidemias que marcaram a história da região, como surtos de varíola e febre amarela no século XIX. Ele também acompanhou as transformações sociais e políticas do Brasil, mantendo seu compromisso com o cuidado à saúde mesmo em tempos de adversidade.
Comemorações bicentenárias
As celebrações do bicentenário incluem uma programação especial que envolve a comunidade local e terá início no dia 11 de janeiro, se estendendo por todo ano, com ênfase nos dias 24 e 25 de janeiro.
No dia 11, a programação celebrativa conta com uma edição especial da série Goiás Cidade Musical, que consiste em apresentações com músicos aclamados do cenário erudito e na realização da serenata, nas noites de lua cheia.
A série normalmente tem apresentações às 17h30 na sede das Mulheres Cora Coralina e às 21h30 no Instituto Biapó. Porém, desta vez, o primeiro concerto será realizado no Hospital São Pedro.
A musicista Moema Craveiro Campos, que é pianista, acordeonista, compositora, educadora e especialista em musicoterapia, vai apresentar o concerto de sanfona e piano “Lembranças de Goiás” para pacientes e funcionários.
“A artista, munida de seu acordeon, passará no pronto socorro, enfermarias feminina, masculina e infantil, pela maternidade e UTI para trazer mais arte e alegria ao espaço”, conta o diretor secretário da Aspag, Frei Cristiano Bhering.
O ápice da programação será nos dias 24 e 25 de janeiro. No dia 24, às 19h, no Teatro São Joaquim, será realizada uma sessão solene com uma série de homenagens a autoridades, instituições, ex-diretores e funcionários, que fizeram parte da história do hospital. A solenidade será seguida pela apresentação do duo Andréa Teixeira e Felipe Valoz.
Após as homenagens, acontecerá uma confraternização no jardim do Palácio Conde dos Arcos, de onde sairá ainda uma serenata.
Já no dia 26 de janeiro, a festa começará às 6h, na Avenida São Pedro (localizada na lateral do hospital), com alvorada dos sinos (os sinos de todas as igrejas serão tocados), culto ecumênico e café da manhã festivo.
A programação retornará às 19h com missa solene com a participação do Coral Solo e, a partir das 20h, acontecerá uma edição especial da série Encontro de Música e Fé, na Igreja do Carmo, que também vai celebrar os 200 anos do Hospital.
“Além disso, recebemos um tomógrafo (aparelho que realiza a tomografia computadorizada) de presente do governo do estado, que será entregue pelo Secretário de Estado de Saúde, Rasível Santos”, completa o diretor.
Terra fértil
Para o diretor-secretário da Associação de Saúde São Pedro D’Alcantâra (Aspag), Frei Cristiano, apesar dos desafios que o hospital ainda precisa vencer, o bicentenário é um marco de gratidão e compromisso: “Celebrar 200 anos é reconhecer o esforço de tantas pessoas que dedicaram suas vidas a este hospital”, diz.
A presidente da Aspag, Marlene Velasco, também se mostra sempre grata e orgulhosa em participar da história do hospital por mais de 30 anos.
“Vi nascer a Aspag, sendo a primeira secretária da recém-criada instituição, tendo como presidente Talvane da Veiga Jardim, homem íntegro, sério, comprometido, com a altiva missão de representar o Lions Clube de Goiás e, como tesoureira-mor, Antolinda Baia Borges, mulher forte, destemida”, recorda.
Marlene Velasco enfatiza queseguiu firme no compromisso com o hospital, que supera dia após dia as suas limitações. “a semente lançada há 200 anos por Dom Pedro I caiu em terra fértil”.
“O hospital, que foi testemunha de várias mudanças, inclusive da transferência da capital para Goiânia, continua com a admirável missão de bem servir e é um símbolo de esperança e refúgio para todas as pessoas, pobres ou ricas, que ultrapassam as suas portas centenárias, mantendo a natureza de filantropia e imbuído do espírito de ‘fazer o bem’, na expressão feliz do nosso saudoso Frei Marcos Lacerda, diretor do hospital’, argumenta a presidente.