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Os desafios para a inclusão

Professor da UFG junto alunos indígenas do curso Educação no Campo — Foto: Reprodução

Neste mês que se celebra o Dia dos Povos Indígenas, Jornal Nova Fogaréu mostra a realidade dos povos indígenas na Cidade de Goiás e os entraves na luta contra o preconceito e para vencer o choque cultural

 

Rariana Pinheiro

Dos povos indígenas que viviam por aqui antes da colonização, só restou o nome do estado e deste município. Não se tem mais rastro dos índios Goyazes. Porém, após quase três séculos, povos indígenas de etnias como Xavante, Xerente e Karajá, têm escolhido a Cidade de Goiás para cursar um ensino superior.

Há cerca de três anos que o município recebe povos indígenas em suas universidades. Mas a convivência tem mostrado que ainda existem muitos desafios para que estes povos não fiquem apenas às margens da sociedade.

A barreira da língua, o choque cultural e, claro, o preconceito são alguns dos empecilhos para integração. Por isso, neste mês que se celebra o Dia dos Povos Indígenas (em 19 de abril), o Jornal Nova Fogaréu mostra tanto os esforços que têm sido feitos em prol da inclusão como também o que deveria ser posto em prática.

Atualmente, há a presença dos indígenas nas três instituições de ensino da Cidade de Goiás: UEG, UFG e IFG. Segundo o assistente social da equipe volante do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Alex Teixeira, que acompanha os povos indígenas no município, há por volta de 96 indígenas catalogados no CRAS.

Ainda conforme o assistente social, a maioria deles veio do Mato Grosso e são da etnia Xavante. Eles moram em oito casas, com familiares próximos, chamadas de núcleos familiares, onde residem cerca de 8 a 20 pessoas.

“A maioria deles são mantidos por auxílios, como os auxílios estudantis, outros trabalham como intérpretes. Assistimos às famílias mais carentes, ajudamos a incluí-las em programas sociais, como o CadÚnico. Ajudamos na matrícula das crianças nas escolas, nos atendimentos de saúde, entre outros auxílios”, explica Alex.

O assistente social acrescenta que o trabalho busca ir além e traz práticas para combater o choque cultural por meio de oficinas e bate-papos, com equipe que, além de assistentes sociais, possui também psicólogos.

“Trabalhamos muito a questão da mendicância. Tinha um grupo que ficava muito na porta de um supermercado e nós fizemos um trabalho com eles. Também focamos na conscientização contra o alcoolismo e diabetes, que são alguns dos problemas enfrentados por eles”, diz.

Uma das metas do trabalho, conforme assistente social, é que os indígenas criem vínculos e ganhem voz ativa na cidade. “Buscamos ainda trabalhar o preconceito na sociedade. Há aquelas pessoas que olham torto e os discrimina. Já outros os romantizam e acham que eles vivem a mesma realidade de séculos atrás”, argumenta.

Em aula

A maioria dos indígenas que vive na cidade de Goiás para estudar estão matriculados na UFG e, mais especificamente, no curso de Licenciatura em Educação do Campo.

“Eles se sentem acolhidos porque o curso é voltado também para estas comunidades tradicionais e nasceu do anseio desses movimentos sociais. O curso é uma forma de a academia dialogar com eles, mas de uma forma que também valoriza o conhecimento que possuem”, esclarece o professor da UFG no curso de Licenciatura em Educação no Campo, Hélio Simplício.

Para os ingressantes indígenas, o professor explica que a universidade auxilia com alimentação e um valor de R$ 500 durante cinco meses. “Estes benefícios ajudam, mas não é suficiente. Tem estudante que veio para a cidade com a família toda”.

Hélio conta ainda que até mesmo na universidade, o local do conhecimento, deve-se pensar em novas formas de acolher os povos indígenas. “Temos um corpo docente sensível, mas que ainda não aprendeu a lidar com a diversidade. Os formadores precisam ser formados. Outro mundo é possível”, salienta.

Para o professor, é preciso que sejam criadas políticas de inclusão. Uma das ações que aponta interessante na tentativa de integração é o envolvimento com o esporte.

Um time composto apenas por jogadores indígenas competiu na Copa Rio Vermelho. Há também, no município, um time de vôlei composto por indígenas.

Time composto por indígenas AWÊ UPTABI de GOYAZ Futebol Clube disputou a Copa Rio Vermelho – Foto: Reprodução

Correlata

“Não somos vistos como competentes”, diz professor da etnia Xavante

Para o professor e mestre em Geografia, Cristóvão Tsereroodi Tsoropre, que é da etnia Xavante e responsável pela equipe de intérpretes dos indígenas na Cidade de Goiás, a chegada desses povos ao município trata-se de um retorno.

“No passado, todo estado de Goiás foi ocupado por vários povos indígenas, entre eles, pelo povo Xavante, que foi descendo até chegar em Mato Grosso. É um retorno para nossos lares. Nossos ancestrais contam que aqui ficava a nossa aldeia velha”, destaca.

Segundo Cristóvão, para os Xavantes, a adaptação tem sido difícil, pois não estão preparados para morar na cidade. “Mas eu sempre falo que precisam enfrentar esse desafio cotidiano para que consigam se formar. Muitos têm dificuldade de comunicação, porém sem ela não podemos ingressar nas faculdades”, ressalta.

Para facilitar a vida dos indígenas por aqui, o coordenador solicita que os gestores tenham sensibilidade e que criem mais projetos de socialização, que os inclua no mercado de trabalho, por exemplo.

“Não somos vistos como pessoas competentes. Queremos mostrar que temos as mesmas competências. Ninguém é melhor que o outro e os nossos sonhos são os mesmos de todos: resistir e reexistir. Nos mantemos em pé e na luta avançarmos”, diz.

Para o professor e mestre em Geografia, Cristóvão Tsereroodi Tsoropre, que é da etnia Xavante é preciso mais projetos de socialização – Foto: Reprodução

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