Com a perda de convênios governamentais, a Comunidade Terapêutica Paraíso sofre uma de suas maiores crises financeiras. Conheça mais sobre este trabalho e veja como ajudar
No mundo, o uso de substâncias psicoativas aumentou 20% em dez anos, segundo o Relatório Mundial Sobre Drogas de 2022. Os números também preocupam no Brasil. Em último levantamento do Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou aumento de 12,4% nos atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool.
Diante deste problema de saúde pública, luta para sobreviver a Comunidade Terapêutica Paraíso. Situada em uma pequena propriedade rural a 14 km da Cidade de Goiás, a instituição há 22 anos oferece uma nova chance aos dependentes de substâncias psicoativas com tratamento multidisciplinar, sério e gratuito.
Mas a comunidade, que foi criada pela Diocese de Goiás, agora tem se desdobrado para se manter após a perda de convênios com o poder público. De acordo com a diretora da comunidade terapêutica, Norma Silva, em 2023, o convênio com o Estado de Goiás e o Governo Federal foram encerrados.
“Este fato ocorreu porque os convênios podem ser renovados em até cinco anos. Depois, é necessário a publicação de novo edital. Porém, novos editais ainda não saíram”, explica.
Ainda conforme Norma Silva, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) publicou o Edital de Credenciamento Público Nº 8/2023 do Ministério da Cidadania. “O resultado foi publicado no Diário Oficial da União no dia 26 de janeiro de 2024, constando a habilitação de nossa entidade. Entretanto, não há previsão de quando este convênio com o Governo Federal será celebrado”, lamenta.
Conta não fecha
Sem os convênios, a comunidade, que atualmente tem 12 pessoas em tratamento, conta com apoio das famílias dos internos, doações e uma verba da prefeitura da Cidade de Goiás para se manter. “Mas estas fontes de renda não são suficientes para manutenção do trabalho”, diz a diretora.
Os custos são altos. Por mês, a comunidade precisa de R$ 20 mil para se manter. Entre os gastos estão a alimentação dos internos, manutenção do espaço e pagamento da equipe de cinco pessoas que trabalham no local.
O bispo Jeová Elias explica que a situação é mesmo grave e que a Chácara Paraíso corre risco de fechar as portas. “Isso seria uma grande perda para toda sociedade, expondo ainda mais essas pessoas à vulnerabilidade”, constata.
Com este cenário, ele faz um apelo à sociedade: “A Chácara Paraíso necessita urgentemente de ajuda financeira, bem como de doações de mantimentos, produtos de higiene e limpeza, arcando assim, com as despesas pessoais dos recuperando”, afirma o bispo.
O início
O ano era 2022. Sem acesso a tratamento gratuito para os dependentes de substâncias psicoativas que gostariam de deixar as drogas, muitas pessoas pediam ajuda ao então bispo da Diocese de Goiás, Dom Eugênio Rien.
Para tentar resolver o problema, diversos setores da sociedade realizaram uma reunião para decidir um plano de ação. “Participaram deste encontro agentes de várias igrejas, das igrejas católicas, de igrejas evangélicas, espíritas e também a maçonaria”, conta o bispo emérito.
Desse encontro, nasceu a ideia de fazer um grupo de apoio aos familiares e dependentes de substâncias psicoativas, o Amor Exigente, cujas reuniões ocorrem até hoje, às segundas-feiras, às 19h, na Diocese de Goiás.
Dom Eugênio recorda ainda que, coincidentemente, neste mesmo momento no qual buscavam soluções para o problema das drogas na cidade, a Campanha da Fraternidade trouxe como tema “Vida Sim, Drogas Não”.
“Logo, fizemos uma grande campanha financeira na nossa diocese que arrecadou fundos para comprar uma pequena chácara para que esses jovens fossem acolhidos”, relembra.
O bispo emérito recorda ainda que a chácara no início do projeto era pequena e sem estrutura, porém aos poucos e com a ajuda da igreja, políticas públicas e outros grupos, conseguiram realizar melhorias. Hoje está com 5 quartos (possibilidade de acolher 20 pessoas), capela, horta, galinheiro, tanque para peixes.
Mudança
A vida de centenas de pessoas foi transformada pela passagem na Comunidade Terapêutica Paraíso. A história do zelador da Igreja de Areias, Fábio Queiroz, 43, é um exemplo de renascimento que o local propõe às pessoas que querem se livrar do vício.
Quando tomou a decisão de passar pelo tratamento, ele morava na rua e tinha perdido quase tudo que tinha. Depois de estar na Paraíso, ele conseguiu trabalho e comprar uma casa. “Eu até casei (risos). Minha vida é só alegria. Quando as coisas estão difíceis eu penso: eu estou é no lucro por tudo que já vivi nas quando usava drogas”.