Representa determinante eixo físico da cidade, além de ser seu principal elemento paisagístico intramuros.
Divide a cidade ao meio e contém uma série de elementos referenciais – as pontes, o cais, os fundos de alguns quintais, herança das datas de mineração, e sempre foi decantado em prosa e verso e, quase sempre, com evidentes exageros quanto ao seu volume de águas e outras características paisagísticas.
Em certa época do ano, os sapos promovem concertos em vários tons e afinamentos e que estão na memória afetiva de todos os vila-boenses, principalmente os sapos-ferreiros, de bela e aguda sonoridade, em contraponto com o sapo-boi, baixo-profundo, além de outros, de sonoridades mais discretas, mas que, em conjunto, formam uma impressionante orquestra batraquiana.
Vez ou outra o rio enche e provoca um estrago na Cidade. No passado destruiu a igreja da Lapa e, em tempos recentes (2001), ocasionou um autêntico desastre, com a destruição de bens materiais e imateriais. Graças a solidariedade de instituições governamentais e privadas quase tudo pode ser restaurado.
Antigamente, mas não muito, era o local predileto das lavadeiras de roupas que enfeitavam suas margens com manchas coloridas das roupas quarando.
Na sua parte mais central o rio está contido pelo cais, que são muros de alvenaria de pedra construídos para conter as enchentes (nem sempre com sucesso, diga-se de passagem).
Mas não devemos esquecer seu papel histórico. Inicialmente emprestou seu ouro para as cunhãs e pajés dos goyazes se enfeitarem, além de seu papel de fornecedor de água para as necessidade e banhos de folguedo. Depois, aí pelo início do século XVI, brancos quiseram botar fogo nas suas águas, coisa que os índios não permitiram e foram obrigados a transigir, mostrando de onde tiravam seu ouro. E os brancos transformaram o simples adorno em objeto de cobiça, de luta, de ódio, de avareza, de luxuria e de misérias de toda espécie.
Nosso rio está parcialmente poluído, mas pessoas de boa vontade estão tentando corrigir isso e, inclusive, restabelecer suas matas ciliares, para que ele se torne novamente o “rio tapuio e velho poeta”, como o chamou o cronista Juruena di Guimarães que assim descreveu uma de suas enchentes:
Nas peambeiras acima do Poço do Bispo, a água roncava ameaçadora, correndo entre penhascos, vermelha de barro, e enfeitada de troncos e detritos catados nas margens lavadas e açoitadas. E o velho rio se avoluma, embrabece, engrossa, ruge, ronca, revoluteia, redemoinha, brama, esbraveja, bate nas rampas, raspa, rói, lava e leva tudo de roldão.