Artigos, Crônicas e Poesias

POEMAS – JORNAL (SETEMBRO 2024)

Microconto escrito por ISMAEL LOMBARDI
Uma breve passagem sobre a natureza de todas as coisas

No começo não havia nada, mas também havia tudo. Entre tudo e nada, surgiu uma consciência infinita cheia daquilo que chamamos de espírito.
E como o infinito era muito, e o espírito também, se fez o possível para apenas existir finitamente no meio de cada possibilidade, de cada mistura e divisão que o todo proporciona.
Consequentemente, o “todo” também era apenas o “nada”, pois o infinito não ocupa espaço algum quando se tem limites.

Logo ocorreu uma oscilação metafísica, e a existência por si só virou um pêndulo entre a completude de tudo e o vazio de nada…

E foi assim para sempre… Ou apenas por um momento…
Porque o tempo flui dentro de um breve termo no meio de toda infinitude.

Até que em algum momento, tal consciência fez uma pergunta em letras garrafais que mudaria tudo:
“O QUE EU SOU?”

Numa explosão de si mesmo, se fragmentou em incontáveis pedaços.

Cada partícula do todo se expandiu para todos os lados, onde até hoje vivem independentemente uma das outras, só esperando o dia certo de retornar para casa e ser um só novamente. Dessa vez, com uma resposta definitiva de si.
Mas por enquanto, estava espalhada, dividida, fragmentada e completamente dissecada, em todas as direções, pulsando dentro das veias de todas as coisas, em todas as partes, em todos os tempos.

Por fim, bem no fim, ela disse a si mesmo:
“Na natureza do ser, nada existe sozinho. Nada se perde, tudo se transforma”

Dessa forma, descobriu quem era de verdade, junto com a natureza do tudo, do nada, do eterno e do breve momento:
“Somos apenas o universo inteiro, experienciando ele mesmo a partir de infinitos pontos de vista”.

Esse sou eu.

 

Rua de Pedras

IRENE RODRIGUES

Mais uma vez, lá vai descendo seu curso,

aquele velho rio de curvas sinuosas.

Debate, espalha, se enche de forças, se torna bravio.

Se é perfeito, talvez. O rio em fúria.

Lava, suja, arrasta e some. Lá se vai ele,

Soltando sua calda de espuma.

Espuma brilhante, reluzente, que se reflete ao sol.

Mais uma vez, lá se vai descendo.

Entre pedras, barrancos e pontes, o rio se vai.

Se é perfeito, talvez.

Mas, lá se vai o rio bravio, que lava, suja, arrasta e some.

Com sua calda brilhante, entre pedras se espalha, se enche de forças e nada sem destino.

Para além de seu curso, o velho rio vermelho.

 

Sem Destino

DIVINA VIANA

Pedras esculpidas desenham caminho no chão conduzindo passos incertos… indefinidos…
Direcionando destino qualquer construída a golpes rudes
as ruas revelam labuta sacrificial… escrava.
Traços divisórios delimitam paisagens suntuosas Por muros de pedras
separando terras fecundas dilacera-nos o sentimento ao pensar na desdita do negro
Paupérrimo causado
Minado pela labuta árdua… parece.
Improvisado no cenário cultural ressurge nas evocações inequívocas
mencionando por alguma narrativa saudosa Transeuntes indiferentes desfilam aleatoriamente
Tropeçando sobre pedras se acotovelando à maneira de golpes rudes sacrificial… escrava

 

Minha terra

KESSIA NOLETO

Minha terra tem urgências,
Que não lutamos para resolver,
Elas foram invadidas, massacradas
E nossos povos estão sendo exterminados
Ainda nos dizem que é pela ordem e progresso.
Minha terra merece descanso E que vidas parem de tirar!
Minha terra pede que parem de desmatá-la!
Em cismar sozinha à noite,
Busco por minha ancestralidade
Que outrora eu deixei para lá
Minha terra tem histórias que agora quero escutar.

 

 

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