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O que aconteceu com o Córrego Gouveia?

Após quase 3 meses do acidente com caminhão que derramou óleo diesel em mananciais da região, para ambientalistas, perguntas continuam sem resposta, mas empresa diz que já foram mitigados os danos

RARIANA PINHEIRO

Consequências desastrosas para o meio ambiente apareceram na Cidade de Goiás depois de um caminhão da empresa Dinâmica Distribuidora, que transportava combustível, tombar na GO-070, nas proximidades do Povoado de Areias, no dia 19 de abril. O motorista saiu ileso, porém, o óleo diesel da pista escoou para a nascente do Córrego Gouvea, situada na Área de Proteção Ambiental (APA) Dr. Sulivan Silvestre e atingiu parte do Parque Estadual da Serra Dourada.

O Córrego Gouveia é afluente do Bagagem, que desagua no Rio Vermelho, importante contribuinte da bacia do Rio Araguaia. Não demorou até que no leito de ambos mananciais fossem avistadas manchas de óleo que provocaram a morte de peixes em um trajeto de 15km. A Lei n. 6.938/81 determina que o poluidor é obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

E, desde que foi constatado o acidente ambiental, a Dinâmica contratou a empresa RG Response, especializada no atendimento a emergências envolvendo acidentes com produtos químicos perigosos para realizar a mitigação de danos. Diversas imagens de trabalho da empresa foram divulgadas, como barreiras de contenção, entre outras medidas.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), informou que, no dia seguinte ao acidente, enviou fiscais ao local para iniciar a vistoria alusiva ao dano causado.

“A empresa responsável pelo caminhão envolvido no sinistro foi autuada em R$ 505 mil (a multa será dobrada por se tratar de área ambiental) e notificada a prestar contas das medidas que tomou para contenção do derramamento, remoção e destinação final do material removido, avaliação de passivo ambiental da área contaminada e para apresentação de plano de recuperação de área contaminada. Essa documentação encontra-se, no momento, sob análise da secretaria”, diz a Semad em nota.

A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente instaurou inquérito para investigar o caso no dia 24 de abril e que, no dia 26 do mesmo mês, servidores da secretaria acompanharam os peritos da Polícia Técnico-Científica na coleta de amostras de água e peixe em quatro pontos do Gouveia, córrego Bagagem e no Rio Vermelho.

Procurado pela rádio Nova Fogaréu, o delegado da Dema, Luziano de Carvalho, disse que o laudo da perícia ainda não saiu e o prazo para o final das investigações era de 30 dias. O delegado acrescentou que tem investigado as causas de constantes acidentes neste trecho.

“Uma barreira de contenção poderia ter impedido o acidente que causou mortandade de peixes e colocou em risco os moradores próximos dois rios”, diz o delegado.
Providências

Com a necessidade de análise das águas, a Prefeitura, divulgou nota informando que, pelo alto grau de toxicidade, os recursos hídricos dos córregos Gouveia, Bagagem e Rio Vermelho, até a altura do Distrito de Buenolândia, estavam inviabilizados para uso.

Em reunião com membros da Secretaria do Meio Ambiente e órgãos de defesa ambiental, como o CODEMAS, foi criadas uma Comissão Especial para acompanhar as medidas de mitigação de danos.

Uma das medidas da comissão foi apontar 11 pontos atingidos para serem analisados em laboratório, obtendo-se uma real situação do ocorrido. Porém, em entrevista realizada no mês passado à Nova Fogaréu, o até então secretário de Turismo, Rodrigo Santana, que assumiu interinamente a pasta do meio ambiente, reclamou da demora da empresa em realizar tais análises, que seriam essenciais para definir as ações de mitigação de danos.

Em contato com a Dinâmica Distribuidora, a empresa disse que, em cumprimento da lei, contratou a empresa RG Response, que realizou todas as atividades mitigadoras possíveis para amenizar o impacto causado pelo vazamento do produto. Ainda segundo a companhia, o relatório da empresa contratada concluiu que naquela área não existem mais quaisquer indícios da presença de elementos derivados do petróleo. Por este motivo, se encerraram os trabalhos da empresa naquele local. Também afirmou que foi feita a análise nos pontos indicados pela Comissão Especial, mas não foram encontrados indícios de contaminação. “Nós sabemos da preocupação dos participantes da comissão especial e sua luta em defesa das causas ambientais. Mas baseando nos relatórios da empresa contratada, podemos concluir que o trabalho realizado pela mesma obteve grande êxito”, conclui a empresa.

 

Análises feitas pela empresa são inconclusivas, diz professor e ambientalista

O professor do curso de Geografia da UEG e coordenador do grupo Águas do Cerrado, Robson Moraes, que faz parte da Comissão Especial, enxerga uma série de problemas nas ações da empresa para reparar os prejuízos ambientais.

Segundo ele, não foram atendidas todas as solicitações da Comissão Especial que pediu uma análise de parâmetros físicos e químicos, microbiológicos de qualidade da água e do solo.

“Na realidade, foi entregue só um tipo de análise, que se chama de Btex, que avalia os componentes químicos do óleo. Esse foi o único exame feito só na água; nós pedimos na água e no solo”, analisa o professor acredita que tais análises foram inconclusivas devido à metodologia que o laboratório utilizou.

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