Cidades, Notícias

O Guardião do Palácio

O Jornal Nova Fogaréu conta um pedaço da história de José Filho Costa, que começou a trabalhar no Palácio Conde dos Arcos com apenas 10 anos e ali continua com a mesma dedicação, cuidado a atenção com o prédio, o acervo e os visitantes

VÂNIO LIMIRO

Primeira moradia oficial dos governadores da Capitania e, depois, da Província de Goiás, o Palácio Conde dos Arcos testemunhou grande parte da história do Estado.

O prédio, que hoje abriga o Museu Palácio Conde dos Arcos, com seus quase 300 anos de construção, não é mais a sede do poder central do Estado, mas permanece de pé como testemunha viva da história de Goiás.

Por quase 200 anos, o Palácio foi sede do poder central e residência oficial dos governadores da Capitania, da Província e, por último, do Estado de Goiás, até a transferência da capital para Goiânia, que trouxe junto, toda a estrutura administrativa do governo.

Com a vacância do poder estadual, a casa grandiosa, a partir de 1937 foi sede da Prefeitura Municipal, por 24 anos. Já em 1961, no governo modernista de Mauro Borges, o prédio foi retomado, transformado em monumento histórico e residência de inverno dos governadores. Um decreto-lei de Mauro Borges, do mesmo ano, instituiu a transferência simbólica da capital, por alguns dias, para a cidade de Goiás, por ocasião do aniversário da cidade, em 25 de julho, tradição mantida até hoje.

A partir de 1977 um novo personagem passaria a fazer parte da história do Palácio Conde dos Arcos, um menino de 10 anos, ainda como menor-aprendiz, foi contratado como guarda mirim do palácio e uma relação de amor e dedicação com o lugar começava a ser construída ali e iria atravessar décadas.

Passados quase 50 anos, ainda é o mesmo guarda-mirim, hoje um senhor de 63 anos, que abre as portas do Palácio e conduz os visitantes numa viagem pela história que ele tem guardada na mente e faz questão de contar todos os dias.

José Filho nasceu no Povoado de São José dos Bandeirantes, no Mato Grosso. A vida, porém, reservou-lhe um duro golpe logo cedo: perdeu a mãe aos três anos de idade. Foi então que, em 1966, ele foi levado para a Cidade de Goiás para viver com a irmã mais velha, Emília, e o cunhado, Antônio Viana, um funcionário público estadual.

Desde cedo, José Filho demonstrava um talento especial. Aos dez anos, seu conhecimento sobre a história da antiga Vila Boa de Goiás chamou a atenção, e ele foi contratado como guarda mirim do Palácio. Em 1977, com apenas 23 anos, já havia conquistado a posição de jardineiro no Palácio, demonstrando seu amor e dedicação ao local.

A grande virada na vida de José Filho aconteceu em 1983, durante o primeiro mandato do Governador Iris Rezende Machado. Foi então que ele assumiu a administração do Palácio Conde dos Arcos, cargo que mantém até os dias de hoje.

Seu dia a dia é marcado pelo zelo e cuidado com o patrimônio histórico do Palácio, além de prestar um atendimento acolhedor aos visitantes. Entre os muitos momentos memoráveis, José Filho presenciou a recepção de diversas autoridades, desde chefes do poder executivo, como Mauro Borges Teixeira e Ronaldo Caiado, até figuras ilustres como o ministro do Supremo Tribunal Eros Grau, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a primeira-dama Ruth Cardoso. Celebridades goianas também encontraram no Palácio um espaço para suas apresentações, seja no jardim ou ao piano.

No decorrer de sua trajetória, que se mistura com a própria história do Palácio, José Filho viu passar 17 governadores, desde Irapuã Costa Júnior, em 1977, até o atual, Ronaldo Caiado.

Em julho de 2016, José Filho foi finalmente reconhecido Cidadão Vilaboense pela Câmara Municipal. Fui uma segunda-feira de muita emoção para a criança que tivera de deixar a cidade natal por conta da morte da mãe e não tinha memórias de outro lugar senão este que agora lhe recebia oficialmente como filho da cidade. A honra maior daquele dia foi ter entre os convidados da cerimônia, seu chefe, o governador Marconi Perillo.

“José Filho é o guardião desse palácio; acho que demorou muito para José Filho receber esse título. Ele sabe de cada detalhe e informação da história do Conde dos Arcos; nós o consideramos da nossa família, afinal são quase 20 anos de convivência”, disse Marconi.

A então prefeita Selma Bastos destacou a competência e o amor de José Filho pelo trabalho e pelo palácio: “Essa homenagem é uma representação de como nos sentimos honrados e gratos por tê-lo agora como verdadeiramente um cidadão de Goiás”, disse a prefeita.

Quando indagado sobre o segredo para manter o ritmo de trabalho intenso na sede do Governo, ele revela que a amor pelo que faz é o ingrediente principal para se manter por tanto tempo no mesmo lugar. “Eu amo o que faço, e não me vejo trabalhando em outro lugar. Este Palácio é minha vida’‘.

“Minha relação com o Palácio Conde dos Arcos é de gratidão e amor. São 47 anos dedicados a servir o governo do Estado de Goiás. Sou grato pela confiança que os gestores do poder executivo depositaram em mim, acreditando no serviço que presto nesta casa”, diz José Filho, refletindo sobre sua longa e dedicada trajetória.

A dedicação e o cuidado de Zé Filho com os visitantes do Palácio refletem seu amor pelo trabalho. A fotógrafa Karina Carvalho, que fará uma exposição na cidade em agosto conta que ele será um dos homenageados na mostra.

“Em janeiro deste ano, trouxe alguns familiares meus, que inclusive trabalham em museus em São Paulo e eles ficaram impressionados com gentileza com que foram tratados pelo seu Zé Filho. Desde o café palaciano servido até a água numa taça, disseram que nunca foram tratados com tanta atenção um outro museu quanto no Conde dos Cargos; isto mostra a dedicação dele” conta Karina, que cedeu as fotos que ilustram esta matéria.

Neste mês de julho, José Filho, assim como faz há 47 anos, vai abrir as portas do Conde dos Arcos como capital do Estado; vai receber Ronaldo Caiado e toda a estrutura político-administrativa de Goiás, com a mesma dedicação e competência que o acompanham desde o dia em que, menino ainda, vestiu a farda de guarda-mirim e, cheio de orgulho e expectativas, entrou no Palácio pela primeira vez.

Valeu a pena; a vida de seu Zé Filho se entrelaça com a própria história do Palácio Conde dos Arcos e da Cidade de Goiás, onde seu legado de dedicação e amor pelo patrimônio permanece vivo e inspirador. Vida longa, saúde e paz.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *