A Secretaria de Estado de Meio Ambiente afirmou em abril que a Cidade de Goiás entrou em situação de atenção devido às fortes chuvas e ao risco de enchentes do Rio Vermelho. Tragédias climáticas pelo Brasil também são sinais de alerta
VÂNIO LIMIRO
A tragédia que deixou mais de 170 mortos no Rio Grande do Sul tem alertado o Brasil inteiro sobre as consequências das mudanças climáticas causadas, sobretudo, por conta da ação humana. Além de afetar vidas, há imenso prejuízo financeiro pelo alto custo de recuperação das cidades e bens materiais.
No final de abril deste ano, um mês após o rio transbordar, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável alertou que a cidade estava novamente em situação de atenção devido às fortes chuvas. Na cidade, o rio subiu 39 centímetros; portanto, serve o alerta.
Não se pode passar ao largo de questões que, no passado e no presente, contribuem para a tragédia. A intervenção humana, que criou um apertado canal para o rio, as pontes de concreto e muros de arrimo, impermeabilizou o solo e, por fim, a falta de rede coletora de águas pluviais capaz de atender à crescente demanda, enquanto os espaços urbanos são cada vez mais impermeabilizados.
As enchentes que destruíram parte do patrimônio histórico da cidade de Goiás podem estar relacionadas com as mudanças climáticas e a alteração do regime de chuvas, mas os responsáveis diretos são todos que deixaram as nascentes do Rio Vermelho serem devastadas pelo fogo e pelo desmatamento de suas margens e matas ciliares ao longo do tempo.
Os problemas são muitos e complexos; o que deve ser feito? Como fazer? Quem deve agir para resolver a situação?
O consultor ambiental e ex-secretário de Meio Ambiente da Cidade de Goiás, Rodrigo Macedo, disse ao Jornal Nova Fogaréu que as intervenções necessárias para evitar as tragédias causadas pelas enchentes devem ser compartilhadas pelo município, o estado de Goiás e o Governo Federal.
“A competência da tomada de decisão — com relação às medidas e ações de prevenção de enchentes na bacia do Rio Vermelho — é uma atribuição que compete ao município, ao Estado e também ao governo federal. Ao município, porque este tem que zelar pelo meio ambiente, mas o Estado e o governo federal, além da atribuição constitucional, eles também têm uma unidade de conservação criada em função da conquista do título de patrimônio mundial. O sítio histórico da cidade de Goiás é tombado como patrimônio mundial pela Unesco e também é tombado pelo IPHAN. Nesse contexto, o governo federal também precisa ajudar o município nesse processo”, ressaltou Macedo.
O ambientalista observou também que o Rio Vermelho precisa urgentemente de ações recorrentes e duradouras. “Temos que compensar a água que antes infiltrava no solo, e que agora está escoando na superfície, com a implementação de técnicas de conservação de solo, recuperação de pastagens, terraceamento, curvas de nível, bacias de contenção para segurar a água na região de cabeceira do rio e ir liberando essa água, fortalecendo o Rio Vermelho gradativamente ao longo do ano e não deixar essa água cair lá e escoar, cair na calha do rio e passar pela cidade colocando todo mundo em risco”, observou.
Para o Secretário Municipal de Meio Ambiente, Carlos Augusto Ignácio Campos, a administração municipal tem envidado esforços para resolver o problema.
“Nós temos um Acordo de Colaboração Técnica vigente com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente que contempla algumas ações. Deste essas ações, nós vamos concluir entre agosto e setembro a instalação de mais uma estação pluviométrica na cabeceira do Rio Vermelho. Também vão ser instalados na cabeceira do rio e adjacências, réguas medidoras de nível do rio, para termos esse controle do nível quando a água estiver subindo”
Sobre as ocupações nas margens do rio, Carlos Augusto disse que a prefeitura está negociando a desapropriação de áreas para aumentar a capacidade de vazão do rio.
“Após a enchente de 2001, todas as edificações que tinham no local foram danificadas pela enchente e posteriormente foram demolidas. Não existe mais nenhuma edificação, porém ainda é uma área privada. A prefeitura está fazendo a negociação para desapropriação dessas áreas. Assim que concluir o processo de desapropriação, será feito todo um trabalho de recuperação da orla paralela ao Mercado Municipal. Esse trabalho de recuperação inclui paisagismo e um trabalho de prevenção mesmo, para melhorar a calha do rio e a água possa fluir de maneira mais adequada”, disse o secretário.
Embora tenham sido tomadas medidas preventivas como a demolição de alguns imóveis dificultadores do escoamento das águas do Rio Vermelho, próximo ao mercado), implantação de uma Unidade do Corpo de Bombeiros; capacitação de servidores públicos na prevenção e controle de enchentes e instalação de réguas de medição a jusante e montante da cidade, somente se saberá da eficácia destas medidas quando o evento repetir, haja vista que não foram contempladas obras civis, públicas ou privadas, com essa finalidade.
É preciso, e com urgência, haver melhor entendimento da zona urbana do Rio Vermelho na cidade de Goiás, que permita visualizar a fragilidade do município para a ocorrência de novas enchentes, pois após o último e catastrófico desastre dessa natureza, as pontes e casas simplesmente foram reconstruídas, restabelecendo o cenário anterior. Enfim, é necessário haver um despertar do poder público e da comunidade ribeirinha para a necessidade da adoção de medidas preventivas mais contundentes e, com isso, buscar o planejamento de um sistema de drenagem urbana capaz de dar vazão às águas do Rio Vermelho em momentos de cheia, para minimizar os danos que possam ser infligidos aos vilaboenses.