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O comendador da música sacra de Goiás

Idealizador do Coral Solo, o maestro Tão foi homenageado com a mais alta comenda do estado de Goiás e tem uma trajetória incansável e cheia de feitos, entre eles levar aos jovens o acesso à música e o cuidado com as tradições

 

RARIANA PINHEIRO

 

Pela história em prol da cultura vilaboense, especialmente com a música sacra da cidade, o maestro Sebastião Curado, conhecido como Tão, este ano foi um dos nomes homenageados com a Comenda da Ordem do Mérito Anhanguera. Trata-se da honraria mais alta dada pelo estado concedida durante a transferência da capital às pessoas que fizeram grandes feitos para o município e ao estado.

Motivos não faltam para que Tão fosse homenageado com título de comendador. Para alguns, até demorou chegar. Isso porque o maestro, com dono de grande irreverência e, exigência, é também conhecido por construir um legado de mais de 40 anos em prol da música sacra da Cidade de Goiás.

Além de ter criado o Coral Solo, entre outros corais, passou adiante a tradição de cantos seculares como os motetos e deu acesso a música e seu poder transformador para centenas de jovens e crianças vilaboenses. Uma parte bem resumida de sua trajetória, Tão contou em entrevista à Radio Nova Fogaréu.

Logo no início da conversa, Tão disse que a proximidade com a música veio de berço. Filho mais novo de uma família de 10 irmãos, seus pais, Dona Silvia da Silva Curado e Seu Amur Passos Curado, eram aficionados por cantar. Assim, toda a prole foi incentivada a não só cantar, como aprender um instrumento, no caso um violão repassado entre os irmãos.

“Nasci em um ambiente familiar que gostava de rir, brincar e cantar. Não tínhamos TV, mal tínhamos telefone fixo. Íamos para fazenda e gostávamos de cantar na fogueira, na sala… Nisso, acabamos criando afinidade com a música e uma afetividade forte que permeia a família até hoje”, recorda.

Tão aprendeu a tocar violão com uma irmã e, desde então, apareceram outras mulheres que ajudaram o músico a encontrar sua missão. A primeira dessas mulheres foi Ieda Sócrates. “Aos 7 anos ela me convidou para tocar na bandinha da cidade, percebeu em mim a musicalidade e me estimulou a ser o maestro do grupo, onde aprendi marimba e acordeon”, diz.

Na adolescência, graças a um grupo de seresta que criou com os irmãos, conheceu outra grande mulher que seria para sempre uma inspiração: Darcília Amorim. “Ela convidou nosso grupo para cantar os Motetos das Dores e se encantou a nossa capacidade musical. Aprendemos todos os motetos e por conseqüência também aprendemos os Motetos dos Passos”.

Coral Solo

Quando terminou o ensino médio na Cidade de Goiás, Tão partiu para Goiânia para fazer faculdade de Artes e Direito. “Nesses meandros eu fui conhecendo mais sobre o universo das canções, já que haviam muitas disciplinas em comum entre a Faculdade de Música e de Artes”, diz.

Mesmo em Goiânia, ele nunca abandonou a Cidade de Goiás. Quando chegava na antiga capital reunia a “meninada” da Praça do Chafariz, onde morava, para cantar.

“A partir daí surgiu a ideia de fazer um coral. Eu só tinha um violão, não tinha órgão. Mas em novembro de 80 criei o Coral Solo. É engraçado porque quando olho para trás parece que foi ontem. Era algo simples e não pensei que se tornaria uma instituição que ultrapassaria os 23 anos”, reflete o maestro.

Na formação do Coral Solo, Tão teve ainda uma surpresa, pois achava que lidaria com adultos porque jovens não se interessavam pelas coisas da cidade. Engano seu.

“O Coral Solo mostrou que o jovem da cidade gosta de participar de atividades culturais. O coral começou com 40 pessoas, na maioria jovens, que acreditaram no projeto”, diz.

Com seus irmãos, Ana Maria, Abner e Aparecida, além de amigos, a exemplo de Divininho, Elber e Darminda, Tão tirou os motetos da rota de esquecimento ao cantá-los na Catedral de Santana.

“Eu toquei os motetos nos harmônios da Catedral, papel que o coral assumiu no ano seguinte e cumpre até hoje”, ressalta o maestro completando que anos depois o grupo foi convidado a assumir os motetos na Procissão do Fogaréu.

Canto do Perdão

Tão ajudou ainda a dar continuidade à tradição do Canto do Perdão. Na época que teve contato mais direto com tais cantos, a responsável pelo grupo feminino na Igreja de São Francisco de Assis era Elizete Ferreira.

O maestro começou ajudando e posteriormente começou a tocar. “Depois Elizete disse que eu ia assumir, porque a gente tem sempre que passar o bastão”, recorda.

Mais tarde, com Adriano Alcântara, criou o Canto do Perdão masculino na Igreja D’Abadia,. “Desenhei a roupa que usam”. E, há cerca de cinco anos, os dominicanos acionaram Tão com a vontade de retornar o Canto do Perdão também no Santuário do Rosário.  Assim, ele fez, mas de forma mais inclusiva, com homens, mulheres, senhoras e crianças todos juntos.

Imagem de destaque – Tão, durante cerimônia de entrega da Comenda da Ordem do Mérito Anhanguera – Foto: Vivi Curado.

 

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