A transferência simbólica da capital para a cidade de Goiás durante os festejos de aniversário da cidade acontece desde 1962 e foi criada pelo governador Mauro Borges Teixeira para reconhecer a importância política da politica da cidade e homenagear o pai, Pedro Ludovico
VÂNIO LIMIRO
Na manhã do dia 10 de outubro de 1961, no Palácio das Esmeraldas, o governador Mauro Borges assinava um decreto-lei que, segundo ele mesmo confessaria a assessores e familiares, era o documento mais significativo de seu governo até então.
Tratava-se do Decreto-Lei nº 48, que autorizava a transferência simbólica da Capital do Estado para a Cidade de Goiás durante os festejos de celebração do aniversário da antiga sede administrativa de Goiás no ano seguinte, 1962, quando a cidade completaria 235 anos.
Três meses antes, em julho, Mauro Borges tinha transformado o Palácio Conde dos Arcos em monumento histórico e residência de inverno dos Governadores, e estabelecido que, a partir de 1962, no dia do aniversário da cidade (25 de julho), todos os governadores despachariam o expediente do governo na cidade de Goiás.
Desde então, durante dois dias, a cidade assiste à instalação do Governo Provisório, na última semana do mês de julho, passando a ser, simbolicamente, a capital do Estado. Nesses dois dias o governo estadual assina atos pertinentes à administração, bem como homenageia personalidades de destaque nos contextos social, político e econômico de Goiás.
Ao criar o Decreto-Lei que regulamentou a transferência da capital, Mauro Borges determinou que as homenagens e honrarias concedidas pelo Governo Estadual seriam sediadas da antiga capital, e que todos os documentos assinados pelo Poder Executivo durante o período fossem grafados tendo como local da assinatura a Cidade de Goiás.
A partir de 1962 a transferência simbólica da capital aconteceu com festa anualmente até 1978, quando o Decreto-Lei foi revogado pelo governador Ary Valadão. O ato só voltaria a ocorrer a partir de 1984, com a criação da Lei 9.314 de 21 de julho de 1983, sancionada pelo governador Íris Rezende, eleito para comandar o Estado após a abertura política de 1982, quando foram reestabelecidas eleições diretas no Brasil, que haviam sido suspensas com o golpe de 1964.
Desse ano para cá, o evento ocorreu de forma ininterrupta até o ano de 2020, sendo interrompido devido à situação de emergência em saúde no Estado, em decorrência da pandemia do coronavírus. Em 2022 voltou a ser realizado.
A transferência simbólica da capital foi, portanto, uma homenagem de Mauro Borges ao pai, um dos maiores líderes políticos de Goiás, tendo participado ativamente da história política deste 1930 e exercia o segundo mandato de senador em 1962.
Mauro Borges chegou a Goiás de forma surpreendente. Com dez anos de idade, vivia em Rio Verde com os pais, quando Pedro Ludovico foi preso por sua participação na Revolução de 1930. Em 24 de outubro de 1930 estava sendo levado preso para a capital, quando, durante o percurso veio a notícia da vitória da revolução.
Assim, Pedro Ludovico chegou ao destino não mais como prisioneiro, mas para assumir a liderança de um movimento vitorioso e o governo provisório do estado. Em 21 de novembro, foi nomeado interventor em seu estado e mandou buscar a família.
Mauro Borges Teixeira presenciou toda luta política do pai durante o período da Revolução de 1930, da construção de Goiânia e da resistência ao movimento paulista de 1932. Iniciou sua carreira política em 1958, como deputado federal. Em 1961, foi eleito governador, implementando ações modernizadoras na administração pública estadual. Responsável por adotar, pela primeira vez, o planejamento como instrumento de gestão pública, criou no estado a primeira Secretaria de Planejamento, iniciativa pioneira no país. Em seu governo, elaborou e implementou o 1º Plano Quinquenal de Desenvolvimento Econômico, conhecido por Plano MB, marco na história goiana e que integrou Goiás no cenário econômico nacional.
Mauro Borges criou órgãos em áreas vitais para o desenvolvimento administrativo do estado, como o Consórcio de Empresas de Rádio Difusão do Estado, Consorcio Rodoviário Intermunicipal (CRISA), a Organização de Saúde do Estado (OSEGO), a Indústria Química do Estado de Goiás e a Metais de Goiás (METAGO).
Em 1964, depois da intervenção federal em Goiás, renunciou ao Governo. Em 1990, conquistou seu segundo mandato de deputado federal e ao fim do mandato deixou definitivamente a vida pública.