Uma programação que começou em dezembro de 2023 e se estenderá até o dia 27 de janeiro marca o sesquicentenário da morte do maior escultor goiano. Data marca também a criação da Semana Veiga Valle, que será realizada anualmente
VÂNIO LIMIRO
Para uma cidade histórica, à medida que o tempo passa, grandes fatos ou personalidades que a marcaram devem ser convenientemente lembrados, especialmente nas datas em que tiveram lugar na história. E quando estas datas podem ser medidas em séculos, parece ser ainda mais importante, ou até mesmo necessário, celebrá-las com intensidade e merecida dimensão.
Em 2024, a Cidade de Goiás comemora os 150 anos da morte de um dos maiores nomes da sua história, o escultor e dourador José Joaquim da Veiga Valle. Para celebrar a data, uma série de atividades foram organizadas e começaram no mês de dezembro. Os eventos vão prosseguir até o dia 29 de janeiro, data da sua morte, ocorrida na Cidade de Goiás, em 1874.
As comemorações do sesquicentenário de Veiga Valle tiveram início em dezembro, com a celebração de uma missa na igreja São Francisco de Paula, seguido do lançamento do selo comemorativo dos 150 anos de sua morte, e de uma exposição fotográfica retratando parte de sua produção em artes sacras.
O ponto alto das celebrações ocorrerá durante a Primeira Semana Veiga Valle, que será realizada de 21 a 27 de janeiro. Durante estes dias as comemorações terão lugar, também, em Pirenópolis, cidade onde nasceu. Lá, uma missa celebrada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário vai marcar o início da Semana Veiga Valle, com a presença da sua mais famosa obra, a coroação da Virgem Maria, uma escultura em madeira com a representação da Santíssima Trindade. A escultura será transportada do Santuário de Trindade, passará por Pirenópolis e chegará à Cidade de Goiás no dia 24 de janeiro. Ainda em Pirenópolis, uma placa do sesquicentenário será descerrada na casa onde nasceu. Também irá acontecer a exibição de um documentário sobre sua vida, além de uma serenata pelas ruas da cidade.
Na Cidade de Goiás, a programação da Semana Veiga Valle continuará com uma exposição fotográfica, uma visita guiada ao Museu de Arte Sacra da Boa Morte, onde está a maioria das peças e imagens sacras que ele esculpiu. Na quarta-feira, 24 de janeiro, dia do sesquicentenário, outra missa na igreja São Francisco de Paula e o lançamento de um selo comemorativo pelos Correios também acontecerão.
Reconhecimento
Todos os eventos alusivos aos 150 anos da morte de Veiga Valle foram planejados e organizados pela Venerável Irmandade de Senhor Bom Jesus Passos, da qual o escultor era membro.
Para Leonnardo Campelo, provedor da Irmandade, e que liderou a organização dos eventos, a dimensão da obra de Veiga Valle impôs uma celebração à altura e levou a um esforço para tornar ainda mais conhecida a trajetória de um dos maiores artistas goianos de todos os tempos.
“Como Veiga Valle fazia parte da Venerável Irmandade, tivemos a ideia de não só comemorar, mas divulgar, na verdade, a obra e a vida dele, que não é muito conhecida na dimensão da grandeza, da qualidade artística e da importância do que ele fez. Assim, decidimos fazer uma semana de comemorações, aproveitando a passagem dos 150 anos de sua morte”
De acordo com Campelo, a Semana Veiga Valle terá características semelhantes à Semana do Aleijadinho, realizada em Minas Gerais e que já está na quadragésima quinta edição.
Assim como é feito em Minas, pensamos em fazer aqui para homenagear um dos maiores nomes da arte em Goiás. Da mesma forma que o Aleijadinho é importante para o estado mineiro, Veiga Valle é importante para Goiás; tanto é que as celebrações não se restringiram à Cidade de Goiás, mas em Pirenópolis, sua cidade natal. Nossa cidade, no entanto, reconhece a importância da obra de Veiga Valle, que formou família aqui, casou-se com a filha do governador da província, está sepultado aqui e as suas maiores obras sacras estão aqui. Então, vimos na criação da Semana Veiga Valle uma forma de divulgar sua obra.
O artista
José Joaquim da Veiga Valle nasceu em 9 de setembro de 1806, no arraial de Meia Ponte, atual Pirenópolis. Sua família era simples, mas de projeção local, pois seu pai exercia várias atividades políticas, religiosas e comerciais. Quase nada se sabe sobre sua infância e adolescência. Não frequentou ensino formal e acredita-se que tenha começado a conceber sua obra no fértil ambiente artístico e religioso em que vivia.
Seguindo as inúmeras atividades do pai, em 1833 entrou para a Irmandade do Santíssimo Sacramento e, em 1837, foi eleito vereador da cidade. Mudou-se para a cidade de Goiás em 1841, a convite do então presidente da Província, José Rodrigues Jardim, com a missão de dourar os altares da matriz da Capital. Hospedado na casa do presidente, Veiga Valle casou-se no mesmo ano com a filha desse, Joaquina Porfíria Jardim, com quem teve oito filhos.
Na cidade de Goiás, iniciou os trabalhos que mais tarde o fariam ser reconhecido com o maior escultor da região. Trabalhava quase sempre com cedro. Suas esculturas eram feitas em partes separadas, que depois eram encaixadas. A delicadeza de detalhes, proporções reais e impressão de movimento das esculturas são algumas das características de sua obra.
Veiga Valle morreu em 24 de janeiro de 1874 sem sair da província de Goiás. O reconhecimento de sua obra veio apenas a partir de 1940, quando seu trabalho passou a ser exposto e debatido, inclusive fora do estado. Em 1974, durante o centenário de sua morte, sua sepultura foi transferida para o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, onde está exposta parte de sua obra.