Neste sábado (13), o Santuário de Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Goiás, será palco de uma celebração especial: os 20 anos de sacerdócio de Frei Paulo Cantanheide, figura querida e profundamente integrada à vida cultural, religiosa e comunitária do município.
A missa comemorativa será às 19 horas, seguida do lançamento de seu livro “Nossa sede de Deus no baile da existência”, uma coletânea de homilias escritas ao longo de duas décadas de ministério. A obra conta com apoio da Rádio Nova Fogaréu, parceira na difusão de iniciativas culturais do município.
O frade capuchinho, cujo sobrenome de origem francesa (que por vezes desafia a pronúncia local) é nascido em São Luís do Maranhão e filho de Dona Maria Pedrolina e Seu José Ribamar. Chegou à cidade de Goiás em 2005, recém-ordenado, e desde então construiu com a comunidade laços afetivos e espirituais que transcendem a rotina paroquial. “Em Goiás, ou nos envolvemos profundamente com a cidade, ou partimos. Eu me envolvi”, afirma o religioso, relembrando sua chegada à antiga Vila Boa aos 25 anos.
Ao refletir sobre os vinte anos de sacerdócio, Frei Paulo destaca sua ligação com o povo goiano e com a paisagem histórica da cidade, que lhe remete à infância vivida entre casarões do século XVIII em São Luís. “Talvez minha identificação com Goiás tenha vindo dessas lembranças. Aqui reencontrei essa atmosfera, mas com uma força sertaneja, literária e artística muito própria”, conta.
Sobre a vocação religiosa, Frei Paulo reconhece a influência decisiva de sua mãe, cuja morte pouco antes da ordenação marcou profundamente sua caminhada:
“Ela desejava minha ordenação até mais do que eu. Sua partida foi um abalo, mas também um impulso espiritual para seguir adiante.”
Outro marco importante em sua juventude foi o assassinato do padre Josino Tavares, engajado na defesa dos trabalhadores rurais no Bico do Papagaio, fato que despertou sua atenção para a Pastoral da Juventude e para a fé comprometida com a justiça social — elemento que atravessa muitas das homilias reunidas no livro.
Sua permanência na cidade de Goiás se intensificou a partir de 2006, quando assumiu a coordenação da Paróquia da Catedral de Sant’Ana. Mais tarde, em 2014, após aprovação em concurso público, tornou-se professor no curso de História da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e diretor do Campus Cora Coralina, onde atuou até 2017. Antes de retornar a Goiás em 2023, serviu por sete anos na Paróquia São Judas Tadeu, em Goiânia, inclusive durante o desafiador período da pandemia.
O livro: um baile entre memória, espiritualidade e humanidade
O título da obra, “Nossa sede de Deus no baile da existência”, nasce de uma reflexão madura sobre a vida espiritual e sobre o modo como os seres humanos trilham, em movimento, suas buscas por sentido. Inspirado pelo incentivo do amigo e professor Luciano Rizzo — já falecido — Frei Paulo começou a registrar suas homilias ainda nos primeiros anos em Goiás.
“Luciano sempre dizia que minhas homilias mereciam se tornar livro. Aos domingos, eu escrevia cedo, depois da missa. Mais tarde passei a gravar e transcrever, mas percebi que a escrita exige outro respiro”, conta o frei.
Revisitar esse material, após tantos anos, foi para ele uma experiência de grande emoção. “Recordei eventos marcantes da vida nacional, do estado e da cidade. Foi como reviver a caminhada pastoral e comunitária que construímos juntos.”
Sobre a metáfora do “baile”, explica Frei Paulo, nasce da convicção de que a vida espiritual não é linear, mas circula, avança, recua, roda. “A existência humana se assemelha mais a um baile do que a um caminho reto”, reflete. “E a sede de Deus se manifesta como sede de justiça, que só se realiza plenamente na vida comunitária.”
O frei reforça que, apesar da profundidade do tema, o lançamento não pretende ser uma aula teológica, mas um convite sensível ao encontro: “Que cada leitor encontre no livro um pouco de serenidade para esse tempo tão acelerado.”
Questionado sobre como comunicar espiritualidade em um tempo dominado pela velocidade e pelos dispositivos eletrônicos, Frei Paulo responde com franqueza: “O mesmo aparelho que oferece banalidades nos oferece acesso à palavra de Deus. O desafio não é tecnológico; é humano. É encontrar tempo para a interioridade no meio do turbilhão.”
Para ele, o cristão não deve se afastar do mundo, mas aprender a bailar com ele — mantendo viva a mensagem de Cristo em meio ao fluxo intenso da vida contemporânea.
Serviço
Missa comemorativa – 20 anos de sacerdócio de Frei Paulo Cantanheide
Sábado, 13 de dezembro
19h – Missa
20h – Lançamento do livro: “Nossa sede de Deus no baile da existência”
Coletânea de homilias de Frei Paulo
Local – Santuário de Nossa Senhora do Rosário – Goiás



