Paulo Bertran

Enchente do Vermelho

Bú-di-vô ro-lô.
Rolô budivô.
Cantavam os sinos da igreja da Lapa no cais da pinguelona, hora extinta.
E os sinos badalavam:
bão, Dr. Sebastião, bem bão,
trim, Dr. Sebastião, trim-trim,
os sinoques trincavam.

Do alto da mansão Bauman, Dr. Sebastião via crescer a enchente do Vermelho, em 1914.

Mal sabia que seria a única vítima humana de bronze em 2001.*

Budivô rolô,
Rolô budivô, gurgitavam os rebolos d’água.

Ressurgiam as pedras do cais do pinguelão e os caquinhos da cruz do velho Anhangüerão.

No dia frio e triste conduzo minha dama para uma noite de paixão.

O busto do seu Vô
Rolara nas águas do Vemelhão.
Budivô rolô.
Rolô budivô.*
Colho então suas lágrimas com a língua e digo: “calma, querida, a vida é breve,
Devoremos a dor com Beijos de amor.”
Budivô, quando soube da história, quase rolô de rir.
Budivô rolô. E nossas histórias de um lindo amor.
Cinquentão.
Quatrocentão.
Escrito nas margens do Rio.
Vermelho
De amor!
*A enchente do Rio Vermelho, Cidade de Goiás, em 2001, fez rolar o busto de Dr. Sebastião Fleury Curado.
**Dialeto vilaboense que apocopa as palavras. É falado rapidamente, o que dificulta o entendimento.

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