Cidades, Destaques, Notícias

A Cidade de Goiás, uma aventura de 297 anos

Em julho de 2024, a Cidade de Goiás chega aos 297 anos de rica e vibrante história. O Jornal Nova Fogaréu preparou uma séria de reportagens sobre a data, contando um pouco sobre a cidade em quase três séculos

VÂNIO LIMIRO

Assim, para celebrar seus quase três séculos de vida, cultura e história, o Jornal Nova Fogaréu publicará, a partir deste mês, uma série de reportagens sobre a Cidade de Goiás, seus casos pitorescos, sua cultura repleta de tradição, devoção e fé, contando um pouco da sua rica e longa história, prestando assim, uma homenagem à cidade pela celebração do seu 297º aniversário.

Os primórdios, o Anhanguera e os donos da terra

A colonização inicial dos sertões de Goiás pelos colonizadores brancos teve início em 1682 e estendeu-se até 1684, liderada pelo renomado Anhanguera e sua expedição. Segundo a lenda, os índios goiazes deram esse nome ao bandeirante paulista Bartolomeu Bueno da Silva, em sua busca pelo ouro e pela captura de índios. Anhanguera significa “diabólico”, pois, para extrair informações dos relutantes índios sobre a presença de ouro, o bandeirante ameaçou incendiar as águas dos rios e demonstrou sua capacidade queimando cachaça num prato.

Sob essa ameaça, os índios cederam ao “bandido” e revelaram o ouro. Se verdadeiro, foi um golpe de inteligência astuta! Anhanguera viajava com seu filho, também chamado Bartolomeu Bueno da Silva, que herdou o apelido do pai.

Após dois anos explorando os sertões, Anhanguera retornou a São Paulo para relatar suas descobertas e explorá-las. Não se sabe ao certo por que houve um hiato na ocupação do território por quarenta anos, mas somente em 1722 o filho de Bartolomeu retomou a busca pelos rastros da primeira expedição, alcançando sucesso em 1725.

Ele retornou a São Paulo para relatar sua descoberta e, em 1726, voltou como Superintendente das Minas de Goiás. Iniciou-se então o estabelecimento próximo à atual Cidade de Goiás para a exploração do ouro aluvial na bacia do Rio Vermelho.

O fascínio do ouro

A corrida do ouro começou, e um dos acampamentos mais prósperos surgiu nas margens do rio, que adquiriu a tonalidade vermelha devido à mineração. As concessões para exploração do ouro foram concedidas ao longo do Rio Vermelho, marcando o surgimento da Cidade de Goiás, inicialmente chamada de Arraial de Santana e depois de Vila Boa dos Goyazes, em homenagem a Bartolomeu Bueno.

Esse nome ainda permanece indiretamente, pois os nativos da atual Cidade de Goiás são chamados de vilaboenses. A vila, ainda marcada por aventura, ambição e problemas sociais, começou a receber infraestrutura para uma vida urbana, embora fosse uma cidade de garimpo.

Para garantir o controle e a exploração eficiente das minas, tornou-se necessário estabelecer uma administração que evitasse o caos e assegurasse que parte do ouro fosse enviada para Portugal. Outras atividades, como agricultura e pecuária, foram proibidas para não desviar a mão-de-obra escrava da mineração.

A população predominante era de escravos negros, submetidos a condições de trabalho terríveis e má nutrição. Os indígenas da região resistiram aos esforços de escravização, e muitas tribos desapareceram devido à violência dos invasores, resultando na destruição de suas culturas milenares.

Apesar de terem habitado a região por milênios, os índios foram perseguidos e massacrados em nome da “civilização cristã”. O antagonismo entre brancos e índios impediu a integração dos mestiços na sociedade local, e sua contribuição cultural foi largamente ignorada. A resistência indígena resultou em seu deslocamento para regiões mais distantes, buscando preservar seu modo de vida anterior à chegada dos colonizadores.

A política de confinar os índios em reduções, sob administração branca e militar, foi prejudicial e, na maior parte das vezes reduziu-os, a mendigos e, muitas vezes, a alcoólatras. No entanto isto não parece ser surpresa, se lembramos que ainda hoje nossas administrações não sabem o que fazer com nossos índios, e eles, de uma forma ou de outra, continuam a ser dizimados.

A verdade é que Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, mesmo não sendo o primeiro a chegar a Goiás, foi o primeiro com intenção de se fixar aqui, dentro da conjuntura do descobrimento de ouro no Brasil.

Sua bandeira saiu de São Paulo a 3 de julho de 1722 para uma verdadeira aventura na selva e, apesar do caminho conhecido, muitos dos componentes da bandeira acabaram morrendo de fome. Os sobreviventes precisaram comer macacos, cachorros e alguns cavalos para conseguir escapar. Bartolomeu um homem obstinado que disse preferir a morte a voltar fracassado, acabou descobrindo ouro nas cabeceiras do Rio Vermelho, na atual região da Cidade de Goiás.

Assim, fundado em 1726, o Arraial de Sant’Anna foi mais um aglomerado minerador descoberto por bandeirantes paulistas durante o início do século XVIII, que depois seria chamado Vila Boa e, mais tarde, cidade de Goiás, sendo durante 200 anos a capital do território.

Inicialmente Bartolomeu Bueno foi o responsável pela administração local das minas, mas com a decisão da corte portuguesa em tornar Goiás independente de São Paulo, elevando-o à categoria de Capitania, em 1749 chegou a Vila Boa o primeiro Governador e Capitão General, D. Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos. O território goiano passou então a ser denominado Capitania de Goiás, título que conservou até se tornar província.

Como em todo o país, o processo de independência em Goiás se deu gradativamente. O primeiro presidente de Goiás, nomeado por D. Pedro, foi Dr. Caetano Maria Lopes Gama, que assumiu o cargo a 14 de setembro de 1824. A política até o final do século XIX foi dirigida por presidentes impostos pelo poder central.

Com a falta de meios de transporte e comunicação, devido às longas distâncias, descasos administrativos, ausência de um produto econômico básico, Goiás demorou a participar do desenvolvimento brasileiro. Grupos manifestaram-se insatisfeitos com a administração e responsabilizaram os Presidentes ‘estrangeiros’ pelo grande atraso de Goiás e passaram a lutar pelo nascimento de uma consciência política local lançando bases futuras de oligarquias goianas.

Durante todo esse período os fatores socioeconômicos e culturais não sofreram abalos; as elites dominantes continuaram as mesmas; não ocorreu imigração europeia; permaneceram os latifúndios improdutivos; decadência econômica, pecuária e agricultura deficitária, educação precária, povo esquecido em suas necessidades.

Somente em 1930 essa situação foi um pouco modificada quando em Goiás, com o médico Pedro Ludovico Teixeira, o movimento renovador tornou-se vitorioso. Mesmo assim o Estado continuava isolado, pouco povoado, rural.

O governo passou a propor como objetivo primordial o desenvolvimento de estado. E a construção de Goiânia foi o ponto de partida para a divulgação do Estado e para uma nova etapa da história, que o Jornal Nova Fogaréu vai contar na edição de junho.

 

Mapa denominado Vila Boa de Goiás e tudo que pertence a seu termo – Foto: Acervo Histórico Ultramarino de Lisboa / Reprodução.

 

Planta de Vila Boa Capitania da Capital Geral de Goiás, feita em 1783 – Foto: Acervo Histórico Ultramarino de Lisboa / Reprodução.

Prospecto de Villa Boa tomada da parte do Sul para o Norte no ano de 1751. – Foto: Colecção Cartográfica da Casa da Ínsua, Lisboa / Reprodução

Prospecto de Villa Boa tomada da parte do Norte para o Sul; no ano de 1751, tomado do Largo do Rosário com destaque para a Igreja de Nossa Senhora da Lapa e Igreja Matriz – Foto: Colecção Cartográfica da Casa da Ínsua, Lisboa / Reprodução

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *