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Damiana da Cunha: histórias de uma heroína controversa

A índia Paraná-Caiapó foi figura emblemática no Brasil Colonial e ficou conhecida pelo caráter conciliador e bravura, entrando para a história como mediadora entre brancos e indígenas

RARIANA PINNHEIRO

Muitos vilaboenses estão acostumados a dizer seu nome, que intitula uma das vias mais importantes da Cidade de Goiás, a Damiana da Cunha – que começa nas proximidades da Praça do João Francisco e finaliza-se na popular Praça do Queijo. Portanto, poucos sabem quem foi essa emblemática figura política do Brasil Colonial.

Fruto de sua época e criação, Damiana da Cunha é avistada com olhares contrastantes. É admirada pela forma conciliatória e bravura ao realizar expedições, que lhe custaram a vida em um papel nada comum para as mulheres da época, sobretudo indígena. As ressalvas se dão pelo fato de que, mesmo de boa-fé, Damiana tenha sido usada em prol dos interesses do governo.

Damiana da Cunha viveu no final do século XVIII e início do XIX. Nasceu por volta de 1779 e morreu em 1831, aproximadamente aos 52 anos. Era Panará-Caiapó, neta do cacique Angraí-ocha, mas ainda muito nova passou um tempo morando com o governador da capitania de Goiás, Luís da Cunha Meneses, que era amigo do seu avó.

Ganhou nome brasileiro e o sobrenome do governador – seu nome indígena ficou desconhecido – e foi batizada. Por outro lado, cresceu em aldeamento e nunca perdeu sua língua materna e, tampouco, se distanciou de seu povo. Por esta sua alma “híbrida”, foi utilizada em expedições para os serviços de “intermediadora cultural”.

“Naquele momento, a Coroa portuguesa esperava que o governador seguisse as diretrizes traçadas anos antes pelo Marquês de Pombal, que previam, entre outras medidas, atrair os indígenas sem usar a violência aberta. A ideia era, através de promessas, presentes e agrados às lideranças nativas, incorporar à sociedade envolvente os muitos povos que permaneciam longe da submissão aos brancos”, diz trecho da pesquisa de Suelen Siqueira Julio, doutora em História pela Universidade Federal Fluminense, que fez uma pesquisa sobre Damiana da Cunha.

Mediação

O mesmo texto diz ainda que a meta era conduzir os indígenas para se deslocarem para a área dos rios Araguaia e Camapuã. E, nestes aldeamentos, os nativos deveriam trabalhar, aprender a religião católica, o idioma português, dentre outras transformações esperadas pelos colonizadores.

Tal tarefa, de acordo com a historiadora Milena Bastos, não era nada fácil. “Os caiapós e canoeiros eram considerados os povos indígenas mais bravos. Dessa forma, Damiana ia aos sertões para expedições com todo aparato, e proteção de soldados e outros indígenas para convencer os nativos de seguirem para os aldeamentos”, argumenta.

Milena Bastos enfatiza que os soldados a acompanhavam na expedição para proteger de embates com outras tribos, já que pelos caiapós era respeitada e querida. Conforme a historiadora, Damiana realizou quatro expedições bem sucedidas, nas quais conseguiu trazer os índios.

As missões eram extremamente desgastantes, por mais que tivessem apoio do governo. “Estas viagens eram muito penosas, algumas duravam seis meses, em que ficavam expostas a mosquitos, doenças e faziam uma alimentação precária. Damiana chegou da última expedição com bastante índios para ser aldeados, mas morreu no mesmo mês, em 1832”, explica.

De boa fé

As expedições de Damiana, de acordo com Milena, eram realizadas com a convicção de que seguir para os aldeamentos era melhor para a tribo, já que ela mesmo tinha vivido em um.

“Ela agiu de boa-fé, conforme o que acreditava, de ajudar os índios a sair de uma vida de privações e que seriam assistidos. Quando os indígenas chegavam nas aldeias, vinham na esperança de uma vida melhor. Mas o indígena tinha cultura de liberdade e muitos não adaptavam”, conta a historiadora.

 

Gravura com imagem fictícia de Damiana Foto: Reprodução/Livro: Perfis biográficos da História Militar do Brasil.

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