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Beira Rio: 20 anos de promessas e pouca mudança

Mais de duas décadas após a enchente histórica de 2002, que devastou parte da região da
Avenida Beira Rio, nos fundos do Mercado Municipal da cidade de Goiás, o cenário de
indefinição ainda persiste. O aterro construído na área, que foi uma das causas agravantes
dos alagamentos, continua no local, e o processo de desapropriação dos cerca de 20
imóveis que ali existiam segue inconcluso, situação que vem sendo cobrada pela
população, especialmente após os episódios de novas enchentes registrados nos últimos
anos.

A retirada do aterro e a regularização da área da Beira Rio estão entre as principais
reivindicações de moradores e comerciantes desde 2002. As construções, erguidas em
área de risco às margens do rio, foram destruídas pela força das águas do Rio Vermelho
durante a enchente daquele ano, que marcou a história recente da cidade e revelou a
vulnerabilidade da ocupação urbana às margens do curso d’água.

Desde então, a Prefeitura de Goiás é responsável por conduzir o processo de
desapropriação dos terrenos e destinação urbanística da área, o que inclui a definição de
novas utilidades públicas e a recomposição ambiental da margem do rio.

O que diz a prefeitura

No entanto, passados mais de 20 anos, a execução das medidas segue de forma lenta e
burocrática. Segundo o Secretário de Administração e Finanças, Dorival Salomé, parte
do processo está em andamento, mas ainda sem conclusão definitiva.

Em resposta à reportagem do Jornal Nova Fogaréu, o secretário informou que a gestão
atual adotou uma estratégia de permuta de terrenos com os antigos proprietários da área
atingida. Segundo ele, cerca de 80% dos permissionários aceitaram a proposta, e o projeto
de lei que autoriza a permuta já foi aprovado pela Câmara Municipal.

“Nós fizemos uma proposta de permuta para os proprietários daquela região, que é uma
área onde não se pode mais edificar. A ideia é transformar o local em estacionamento e
espaço de convivência, sem construções. Cerca de 80% aceitaram os terrenos oferecidos
em outro lugar, e o projeto foi aprovado pela Câmara. Agora estamos executando as
permutas, registrando os imóveis e resolvendo questões de inventário e cartório”,
explicou Dorival Salomé.

O secretário também afirmou que os 20% restantes dos proprietários ainda não aceitaram
a permuta, mas que o diálogo permanece aberto.

“Aqueles que não aceitaram, a gente vai continuar conversando. Se não houver acordo, a
desapropriação é uma das alternativas possíveis”, disse.

A situação da Beira Rio voltou a ganhar destaque após as enchentes registradas nos
últimos anos, que reacenderam o debate sobre a segurança da área e a necessidade de
obras estruturais de prevenção. O Jornal Nova Fogaréu já havia abordado o tema em
reportagem publicada em fevereiro deste ano sobre as ações para evitar os danos e
proteger o patrimônio.

Na ocasião, especialistas e representantes da comunidade destacaram a importância de
ações integradas de engenharia, urbanismo e meio ambiente para evitar novos desastres.
O prolongamento das pendências na Beira Rio, segundo moradores, reflete uma
morosidade histórica que precisa ser superada.

Entre o risco e a urgência de intervenção

O trecho da Avenida Beira Rio abriga um dos pontos mais críticos do perímetro urbano
da cidade durante os períodos de cheia. O aterro construído modificou o curso natural das
águas, reduzindo a vazão do rio e aumentando o risco de transbordamento em épocas de
chuva intensa.

Além do impacto ambiental, a permanência da estrutura e a indefinição sobre o destino
da área comprometem o planejamento urbano e paisagístico do entorno do Mercado
Municipal, um dos cartões-postais da cidade de Goiás.

Enquanto a burocracia avança lentamente, a comunidade local segue cobrando medidas
efetivas. A retirada do aterro e a conclusão da desapropriação representam não apenas
uma questão urbanística e ambiental, mas também um compromisso com a segurança e a
memória da cidade.

“É um processo que precisa sair do papel. As enchentes não esperam pela tramitação de
cartório”, comentou um morador da região ouvido pela reportagem.

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