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Canção “Araguaia” faz 50 anos: a música que virou hino das férias no Cerrado goiano

Composta por Rinaldo Barra e eternizada na voz do irmão, Marcelo Barra, a música celebra meio século e ganha nova versão em reggae

ALEX PEREIRA

Quando chega o mês de julho, os olhos e os corações de muitos goianos se voltam para o Rio Araguaia. De geração em geração, famílias inteiras mantêm a tradição de acampar nas margens do “mar do cerrado”, como muitos carinhosamente chamam o Araguaia. Entre a areia quente, o sol poente e a água corrente, uma música se destaca como trilha sonora oficial dessa paixão: Araguaia, composta por Rinaldo Barra e eternizada na voz de seu irmão, Marcelo Barra. Em 2025, a canção chega ao marco histórico de 50 anos.

“Essa música é um filho”, declarou Rinaldo em entrevista à Nova Fogaréu. A composição nasceu do entusiasmo de um jovem de 18 anos, em 1974, que ainda nem conhecia o rio pessoalmente, mas já havia sido tocado pelo imaginário coletivo que envolve o Araguaia. O refrão, hoje conhecido por milhares de goianos, surgiu antes mesmo da primeira visita:

“Meu Araguaia

Suas areias cobriram

meus pés

Seu encanto fez do pranto

Um acalanto pra nós dois”

A música começou a tomar forma antes da viagem ao rio, mas foi com a ajuda do irmão Marcelo Barra, responsável por ajudar a harmonizar e dar acabamento à melodia, que ela se consolidou. A versão final ficou pronta em dezembro de 1974. Mas foi em 1975 que Araguaia realmente se espalhou, sendo cantada em Goiânia, no interior, como nas tradicionais serenatas na cidade de Goiás. “Ela pegou com a turma. Começou a ser cantada em tudo quanto é canto”, relembra Rinaldo.

Marcelo também recorda esse momento como o verdadeiro início da própria carreira artística. “A música Araguaia se confunde completamente com o começo da minha carreira. Eu não tinha a menor ideia de onde isso podia chegar. Meu pai, muito musical, escutou a canção e disse: ‘Essa música vai ser eterna!’. A gente, na juventude, ouviu isso e foi levando”, lembra o cantor.

Em 1976, a canção foi inscrita em um festival estudantil, defendida no palco por um jovem Marcelo, então com apenas 16 anos. “Empurramos o Marcelo no palco”, contou Rinaldo, entre risos. “Foi impressionante. O ginásio inteiro cantava o refrão. Até os colégios concorrentes cantavam. Era algo mágico. E isso foi muito emocionante pra gente”, lembra Marcelo.

O impacto da música no festival foi tamanho que chamou a atenção de um representante da gravadora Polygram, que levou Marcelo ao Rio de Janeiro e apresentou a canção a Fafá de Belém. Um ano depois, Araguaia foi gravada por Fafá em um disco que também trazia faixas de Milton Nascimento. A música ganhou o país, mas permaneceu como um símbolo regional. A canção foi apresentada ao Brasil, mas nunca deixou de ser, antes de tudo, um hino goiano.

“Ela virou uma espécie de oração laica do nosso verão”, define Rinaldo.  Para Marcelo, por sua vez, testemunha a força atemporal da composição. “Hoje ela é cantada por corais de todo o estado, por estudantes, por pescadores. Muita gente me diz que, ao chegar ao Araguaia, a primeira coisa que faz é colocar a música pra tocar ou cantar mesmo à capela. São relatos que emocionam”.

Para celebrar o cinquentenário, a canção acaba de ganhar nova roupagem. Rinaldo e Marcelo lançaram uma versão em ritmo de reggae, com arranjos de Lázaro Silva e participação do guitarrista Natan Marques, conhecido por trabalhos com Elis Regina. A nova versão busca dialogar com o público jovem e renovar a trilha sonora das temporadas nas margens do rio.

Além de Araguaia, os irmãos ainda criaram uma trilogia: Araguaia II (em parceria com Luís Junqueira) e Araguaia III, esta última menos conhecida, mas igualmente inspirada pela relação com o rio.

E, para quem já passou uma noite em volta da fogueira às margens do Araguaia, não há dúvida: quando os primeiros acordes ecoam, a memória afetiva acende. O Araguaia é mais que um rio. É uma canção. E essa canção agora é cinquentona, viva, pulsante e eterna, como previu o José Joaquim da Silva, pai dos irmãos Barra.

Fotos: Arquivo pessoal – Rinaldo Barra

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